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sexta-feira, abril 23

"Que o vento, meu filho, quando passa pelas coisas tem o poder de desescrevê-las levando-as embora, como faz com as folhas no outono"

Emanuel José era seu nome, era esse também o nome do avô. Quando olhava para o espelho sentia vergonha, sabia que não era culpado, mas ainda assim sentia vergonha, mas hoje, hoje foi diferente.
Quando olhou no espelho, se lembrou do mané, que sentado em sua cadeira de fios com o cigarro de palha em mãos dizia calmo que as coisas ruins da vida eram como aquele cigarro, queimavam por algum tempo no coração da gente, mas depois viravam cinzas e eram varridas pelo vento. "Que o vento, meu filho, quando passa pelas coisas tem o poder de desescrevê-las levando-as embora, como faz com as folhas no outono" disse o mané na sua velha cadeira de fios. 
Era como se o avô soubesse de tudo, do maior e único segredo de Emanuel, aquele que não contara para ninguém jamais, mas que até então vivia dentro dele com  as janelas bem fechadas onde queimava insistentemente e não deixava, de forma alguma, o vento entrar.  Mas hoje era diferente, usaria de toda a sua força para finalmente abrir as janelas. 
Abriu a janela e decidiu que aquilo tudo pararia naquele instante de queimar; foi então que entrou o vento. E o vento desescreveu aquelas dores e medos do coração, calmo como a fala do avô, simples como caem as folhas adas árvores no outono. 
Não sofreria mais por aquilo que não procurou, pois para ele, que apesar de tudo conservara uma alma de menino, só merecia castigo quem havia feito alguém sofrer, ele não o fizera. 
Não deixaria mais, nunca mais, que o que aquele estranho fizera com o menino Emanuel no celeiro da fazenda de seus pais naquela noite estranha enquanto brincava de conversar com os pôneis que ganhara do avô deixasse o homem Emanuel José com vergonha de viver, logo ele que apesar de tudo tinha um coração tão cheio de inocências. 

8 Espantos:

Ná Lima disse...

"...as coisas ruins da vida eram como aquele cigarro, queimavam por algum tempo no coração da gente, mas depois viravam cinzas e eram varridas pelo vento."

Sábias palavras. Sempre tenho meus avós como ícones de sabedoria, e na verdade são. Viveram mais que eu e sabem o necessário da vida. É importante respeita-los.

Leandro blogger disse...

É, ha quem escreva mais do que palavras!

Adoro meus avós, eles se,pre foram um espelho para mim, mais não sei por que quase nunca os ouvia, eles eram os anciões, de todas as coisa.

"E o vento desescreveu aquelas dores e medos do coração, calmo como a fala do avô, simples como caem as folhas adas árvores no outono."

Desse jeito você me mata do coração
simplismente amei!
Abraço....

Késia Maximiano disse...

Nossa!
Fiquei sem palavras... rs

Beijos

Joel Vieira disse...

LindoO
Gostei principalmente da comparação feita entre os problemas da vida e um cigarro, que vai queimando até virar cinzas!

Abraços

Maldito disse...

Adoro quando conseguem extrair um conto so cotidiano,..parece simples mas é mais complexo do que se imagina!
Parabens!

Arco Irís disse...

Que bonito!

" Era como se o avô soubesse de tudo, do maior e único segredo de Emanuel, aquele que não contara para ninguém jamais, mas que até então vivia dentro dele com as janelas bem fechadas onde queimava insistentemente e não deixava"...

Me fez voar!

Jamylle disse...

belíssimas palavras, e cheias de razão.
muito bom, o seu texto!
(:

Joel Vieira disse...

Olá tem selo pra vc no meu blog!
Passa lá depois!
Abraços