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sábado, dezembro 26

A Estrela [Parte 4]

Com seu regresso como atriz consagrada na Itália, os convites não pararam de chegar, mas ela recusou todos.
Sentia-se muito mal, seus pais eram tudo o que ela tinha de concreto na vida, e ela os tinha perdido.
Depois de tudo acertado, ela não sabia o que fazer, se voltava para a Europa ou se ficava no Brasil, voltava para sua antiga casa e retomava sua carreira aqui.
Decidiu ficar, mas não retomou a carreira.
A estrela estava triste de mais para poder brilhar, ela simplesmente não conseguia.
Louise entregou-se ao álcool, passava dias e dias bêbada. Hilda e Marcelo ficavam preocupados, ofereciam ajuda, mas Louise não queria ajuda, estava mal e estava feliz com isso, achava-se merecedora de seu sofrimento, além do mais o álcool era a única coisa que podia fazer com que os pensamentos corrosivos das brigas com os pais saissem um pouco de sua cabeça.
Hilda tantava lhe convencer de que nada daquilo tinha importância, e que ela fez o que fez porque precisava alcançar o que sempre quisera para a vida e que seus pais é que não tinham a mente aberta como elas tinham e que aquelas brigas eram normais, nada de mais. Mas tudo foi inútil, Louise se sentia casa vez mais mal, sua alegria e otimismo persistentes de outrora transformaram-se em pura angustia.  
Alguns meses se passaram e Louise teve uma pneumunia, não fez o tratamento que devia e seu quadro se agravou.
Em Julho de 1950 o brilho da estrela se apagou para sempre.

sexta-feira, dezembro 25

A Estrela [Parte 3]

Com sua pouca idade e seu novo comportamento, Louise começou a ter problemas com os pais. Vera sentia-se orgulhosa, mas acreditava que não era correto que uma moça daquela idade andasse por bares com um moço, sozinha, sentia-se chateada. O pai por mais paciente e compreensivo que fosse, abominava as novas atitudes da filha, sentia-se envergonhado perante os amigos que diziam "eu te avisei sobre essas artistas", e ele e Louise tinham interminaveis discussões quando ela regressava de suas noitadas.
Louise ficava sufocada dentro de sua própria casa, não podia receber os novos amigos, não podia beber em casa, ou fumar, e sempre recebia intermináveis sermões dos pais quando chegava em casa.
Apesar da boemia a que Louise se entregou, sua carreira continuou deslanchando, e outros papeis importantes chegaram.
Certo dia, enquanto ela e Marcelo tomavam suas bebidas de sempre sentados no bar de sempre, chegou uma conhecida de Marcelo que viera de Paris, Hilda Katerine era o seu nome.
Hilda era cerca de dois anos mais velha que Louise, mas sem dúvida era uma mulher a frente de seu tempo, usava calças e um batom vermelho cortante fosse noite ou dia.
Elas tornaram-se amigas, Louise admirava o caráter de Hilda, e logo adotou também as calças.
Foi um escândalo na família, a situação ficou insustentável. 
As noites de Louise eram sempre uma aventura, espetáculos, e o trio pelos bares da cidade. 
Em feveriero de 1941 Louise e seus dois inseparáveis amigos conheceram o Lança Perfume, era carnaval. Marcelo e Louise apenas se divertiram com ele, para Hilda o Lança Perfume tornou-se companheiro.
Os dois amigos ficavam preocupados com Hilda, mas ela sempre estava muito bem.
Em março de 1942 durante um dos coqueteis de fim de estréia de peça, Louise conheceu José Augusto com quem casou-se oito meses depois. 
Foi uma paixão arrebatadora para ambos, e apesar de José Augusto não gostar muito dos amigos de Louise, e deles também não se sentiram muito a vontade com o rapaz, tudo foi muito bem, e Hilda e Marcelo foram seus padrinhos. Para os pais de Louise um alívio. Para ela própria também, não havia outro jeito de sair de casa. 
Quatro meses depois Marcelo e Hilda casaram-se também, provavelmente descobriram com a ausência da companheira que essa de casamento poderia dar certo com eles. 
Mas o casamento de Louise não deu certo por muito tempo, em janeiro de 1944 ela decidiu se separar de José Augusto, não se sentia feliz, mais uma vez estava sufocada, ela era livre, jovem, bonita e rica, não precisava daquilo. Mais uma decepção para os pais, mas dessa vez a estrela foi brilhar em um canto que era só seu. 
Louise decorou sua casa cuidadosamente, organizou cada detalhe, deu uma festa de inauguração em seu novo apartamento. 
A partir dai Louise decidiu que conheceria o mundo sozinha quando não estivesse em turnê. Ela queria conhecer toda a Europa.
Como tudo havia sido desde o começo, querer para Louise era poder, e ela fez todas as viagens que queria, teve muitos amores, um em cada viagem, ou mais que um, mas foi em Florença que conheceu o maior deles, o amor de sua vida, Alonzo. 
Alonzo Bergamo era um diretor de teatro, se conheceram atravéz de contatos que Louize fizera durante suas viagens. Sem dúvida foi a maior paixão da vida de Louise, não se casaram como ele gostaria porque Louise passou a acreditar que os casamentos acabavam com o amor, mas viveram juntos em Florença e foram muito felizes enquanto foi possível. 
Sendo Alonzo diretor, Louise fez várias peças na itália. Ela brilhava como nunca em palcos Italianos.
Em 1949 Louise recebeu a triste notícia de que seus pais haviam falescido em um acidente de automóvel. Transtornada regressou sozinha para o Brasil, despediu-se de Alonzo com a promessa de que estaria de volta assim que pudesse, o que não foi possível. 
Louise não chegou no Brasil a tempo de velar o corpo de seus pais. Depois teve que tomar conta de todos os papeis e como filha única herdara tudo o que fora dos pais para si. É claro que ela não precisava daquilo, já era rica o suficiente, queria seus pais de volta, agora. Foi o único desejo de Louise que não pode se realizar. 
Enquanto cuidava dos trâmites legais com ajuda de Marcelo e Hilda, sentia remorso por ter causado tanto desgosto aos pais. 
Com seu regresso como atriz consagrada na Itália, os convites não pararam de chegar, mas ela recusou todos. 


[Continua]

quinta-feira, dezembro 24

A Estrela [Parte 2]

Aos 14 anos, Louise fez um teste para uma companhia de teatro e em 1933 estreou sua primeira peça chamada "A Rosa".
No dia da estréia, Louise estava muito nervosa. Enquanto se preparava na coxia sentia cada célula de seu corpo tremer, o estômago revirou, mas ela sabia que poderia fazer aquilo, ela tinha ensaiado cada fala, sabia de cada gesto que teria que fazer, tudo milimétricamente gravado em sua memória, então ela decidiu que iria brilhar, seria a primeira vez que a estrela Louise brilharia, e dali para frente seu brilho nunca mais iria se apagar, ela seria uma estrela eterna. 
Quando Louise decidia uma coisa, estava decidido e pronto. 
Ela foi perfeita no papel de Tereza que era filha de Josefa, uma mulher determinada e sensível, que sofria com a brutalidade do marido que escolhera para si. Louise juntamente com todo o elenco de "A Rosa" foi aplaudida de pé, a peça foi um sucesso e ficou em cartaz por alguns meses.
Nos anos seguintes Louise foi parando com o balett, entrou de cabeça nos ensaios, fez parte de outras peças, e foi crescendo em sua carreira.
Até que aos 19 anos chegou o seu grande momento, o momento que qualquer atriz espera que chegue, a sua primeira protagonista.
A peça chamava-se "Menina Fêmea Mulher" de um roteirista brasileiro, Louise vivera Nadir, uma menina que tinha então 20 anos e passava pelas mudanças de menina para mulher. Foi uma peça polêmica na época, porém de grande repercussão, e que consagrou Louise como uma estrela.
Ela tinha conseguido, tinha chegado lá, sentia-se absoluta. Seus pais estavam também muito orgulhosos, principalmente a mãe, que via na filha seu sonho realizado. 
No coquetel servido depois da peça com os atores, diretores, críticos e outras figuras importantes no cenário artístico da época, Louise conheceu Marcelo Augusto Mendes, um jovem de 22 anos que adorava arte e estava acompanhando um dos críticos presentes. 
Entre risos gerais aqui e ali, eles começaram a conversar. Houve uma identificação mútua e começara naquela noite uma amizade concreta, que mudaria a vida de Louise radicalmente.
Dali para frente eles começaram a se ver de vez enquando, não era um namoro, visto que não havia empatia física entre eles. Marcelo apresentou seus amigos e amigas para Louise que na época não tinha muitos que ela pudesse chamar de amigos, dedicara toda a sua existência em aperfeiçoar-se, logo não tinha muito tempo para isso.
Com seu novo amigo, começou a frequentar os lugares mais movimentados do Rio de Janeiro, como começou a ir a praia, logo ficou mais corada e deixou aquele aspecto doente que sua pele tinha, ficou mais bonita, e com o tempo a boa menina que apesar de geniosa era muito domesticada foi ganhando uma ousadia que não vinha do berço, passou então a atrair a atenção de vários rapazes. Era uma jovem, bonita e famosa atriz, que tornou-se logo uma das moças mais cobiçadas das altas rodas da sociedade carioca. Louise Ferraz, a estrela.
O novo caráter de Louise fez com que ela conhecesse coisas que não estavam dentro dos tantos livros que devorara e nem dentro da sua sólida criação. Louise e Marcelo tornaram-se uma dupla inseparável, a mídia noticiava um namoro que não era real, eles não se incomodavam e passaram a perder as noites que vinham depois dos espetáculos de Louise em bares. Louise bebia sempre Whisky com duas pedras de gelo, o garçon já sabia, e Marcelo bebia sempre sua Bloody Mary, um coquetel raro que poucos lugares fazem e poucas pessoas apreciam.
Com sua pouca e idade e seu novo comportamento, Louise começou a ter problemas com os pais. 


[Continua]

terça-feira, dezembro 22

A Estrela [Parte 1]

Louise queria ser uma estrela.
Quando nasceu em 1918, sua mãe já queria que fosse uma estrela.
Ela cresceu acreditando que nascera para brilhar nos grandes palcos do mundo, Louise queria ser atriz, aos quatro anos preparara sua primeira peça que foi apresentada e aplaudida na ceia de Natal da família.
Louise era uma criança linda, tinha a pele muito branca e as bochechas rosadas, o cabelo levemente ondulado e castanho claro, os olhos verdes e movimentos delicados, quase dançados. Tinha um olhar que deixava imune qualquer um, mas por traz de sua candura tinha um gênio forte, era birrenta e voluntariosa. Queria tudo aqui e agora. Sabia muito bem dissimular, era uma atriz nata.
O pai de início era contra devido a forma como as artistas eram vistas e posteriormente pela dura opressão política da época em que a ditadura militar sufocante tentava silenciar as artes, mas deixou-se levar pelo sonho de sua esposa, sonho esse que na verdade era mais como uma projeção do seu próprio sonho vetado, e sendo o pai Marcos Ferraz, engenheiro conceituado, de boníssima alma, acabou permitindo que a filha seguisse a carreira artística e mesmo sendo chamado de louco pelos companheiros do clube, ele sentia até orgulho dos inegáveis talentos que a filha mostrara desde criança.
Sobre a mãe podemos dizer que sempre fora uma sonhadora, não alcançou todos os seus objetivos, pelo menos não o principal deles, a sua vida de estrela, mas casou-se com um homem que ela mesma achava ideal para si, teve uma filha linda e talentosa e ostentava a posição social que sempre desejou. Era ainda uma boa mãe e administrava bem o seu lar, era amada como mulher e respeitada em seu meio. Vera Lúcia Souza Ferraz era uma mulher feliz.
Aos quatro anos Loise começou a dançar ballet, ela era perfeita como fazia questão de ser em tudo o que fazia, fossem coisas sérias ou alguma travessura de moleca como a vez em que colou os cabelos de sua baba enquanto esta dormia só porque não admitia que lhe chamassem a atenção, exeto o pai, que tinha de Louise o maior respeito e admiração.
Se apresentou muitas vezes quando criança, era uma menina que carregava em cada movimento graça, sentia-se única enquanto dançava, mas ainda não era o que queria, ela queria os teatros e bem pequena já sabia disso.   
Aos 14 anos Louise fez um teste para uma companhia de teatro e em 1933 estreou sua primeira peça chamada "A rosa". 
No dia da estréia, Louise estava muito nervosa. 

[Continua]

quinta-feira, dezembro 17

O amor é beijo na boca com algodão doce na mão esquerda

Estavam os dois caminhando no parque. O menino que pensa verso, a menina que sonha infinitos.
Era uma tarde agradável, caminhavam os dois, não só em corpo, caminhavam também suas almas juntas, de mãos dadas. A sincronia do sentir, do amar.
Conversavam suas estranhesas entrelaçadas, como se o mundo fosse um universo a parte, eles não teriam que participar deste universo, pelo menos enquanto estivessem juntos, porque para os dois era tudo naturalmente muito simples, fácil.
Então eles paravam de repente e ficavam a se olhar, uma análise profunda da aura do outro, e o sincronismo do sentir.
Eles compraram algodão doce, e então a doçura dos beijos.
Então o amor é isso, beijo na boca com algodão doce na mão esquerda, versos de infinito, duas almas encontradas em sincronia, o mover dos olhos encantados.
Então era isso, o menino, a menina, o amor e a felicidade paralela ao resto de tudo. 

sexta-feira, dezembro 11

Coisas que só acontecem com Pã [2]

Olá,
Aqui estou eu novamente escrevendo neste caderno de histórias que na verdade deveria se chamar caderno das desventuras.
Se você ainda pensa que eu sou alguém normal, pode se desfazer desta esperança, porque não, absolutamente eu não sou uma pessoa normal.
Porque?
Só porque tudo de ruin ou desastroso que esteja previsto nas linhas do destino para acontecer, obviamente acontece comigo! Eu sou a encarnação do perigo, e na minha testa deveria ter um bilhete escrito "PERIGO, NÃO SE APROXIME". Por isso se cruzar comigo, mantenha distância, quem avisa amigo é!
Então você me pergunta "Mas criatura por que tanta revolta?"
Eu te respondo!
Tudo começou com o meu primeiro encontro.
Eu tinha uns 14 anos se não me engano. Era uma daquelas matinês de festa, então eu fui com as minhas amigas. Minha mãe louca lógicamente queria que eu colocasse uma roupa superhipermagamasterblaster CAFONAAAA que só uma hippie como ela vestiria. Eu recusei, óbvio, e coloquei a roupa que eu considerava ser mais normal do meu guarda-roupa pobre de roupas normais.
Então eu sai toda bonitinha, e quando chegamos lá, eu vi um menino que estudava na mesma escola que eu. Eu sempre achei ele bonitinho, e ele óbviamente sempre me achou uma... uma... estranha.
Mas milagres às vezes acontecem com os desventurados, e ele disse para as minhas amigas que queria conversar comigo. Eu fui, apavorada mas feliz por ter sido notada pela primeira vez na vida.
Ai nós fomos para um cantinho mais discreto da festa, o térreo, encostamos perto da parede e ele me beijou. Pulando a parte das sensações que este primeiro beijo me trouxeram, é claro que não seria perfeito! Não comigo!
Alguma alma sem coração distraidamente deixou cair um copo de refrigerante do segundo andar, e adivinha onde caiu? Isso mesmo, bem na nossa cabeça!
Foi terrível, o "clima" foi totalmente estragado, e depois de termos limpado parcialmente os danos nem tinha como continuar nada.
Por isso quando eu digo que sou um PERIGO em letras grandes eu acho bom que vocês acreditem!

Álbum de Pan

Esse foi a minha primeira vítima.

quarta-feira, dezembro 9

Um fim de tarde.

O dia amanheceu nublado. O sol parcialmente escondido entre as nuvens.
Escovei os dentes, lavei o rosto. Vesti o uniforme do colégio, peguei no guarda-roupa uma calsa jeans qualquer, coloquei os meus velhos tênis All Star.
Sentei-me na mesa, tomei o café da manhã e fui para a aula.
Eu não esperava nada daquele dia. Seria só mais um na minha monótona rotina.
Eu estava enganada. Este seria um grande dia.
Enquanto percorria a longa tragetória entre a minha casa e a escola ia ouvindo "Wish you were here" Pink Floyd. Voltei a música várias e várias vezes até entrar na sala.
Assisti ás aulas mais entediada do que de costume, na verdade eu acho que dormi na aula de filosofia. O tédio é como um veneno para mim, vai percorrendo lentamente pelo meu corpo, lentamente de mais.
Sai da escola, fui para casa, almoçei, sentei na sala e começei a não assistir a TV. Estranho, mais eu nunca assisto televisão, eu simplesmente uso a tela colorida para não ter que justificar ás pessoas que estão por perto porque eu estou olhando pro nada. Eu acho que passei umas duas horas não assistindo TV.
Minha mãe me despertou dos meus devaneios, eu sinto que ela nunca percebe que eu não estou realmente no aqui e no agora, mais é melhor assim, dar explicações sobre o meu comportamente adolescente é algo que eu não gosto de fazer. Sorridente como sempre ela me pediu que fosse fazer umas coisas no centro para ela. Eu fui. No caminho e continuei a ouvir a mesma música. Decidi que ela seria a música do dia.
Andando devagar e olhando para o chão simplesmente para não ter que perceber que estou cruzando com algum conhecido, se ele me chamar eu também não vou escutar porque os fones de ouvido estão no último volume. E depois eu simplesmente posso dizer que estava muito distraida. Anti-social? eu acho que sou sim. Tem dia que a disposição das pessoas a serem gentis me irrita. Profundamente.
Fui ao supermercado, á farmácia, entrei na livraria para verificar se havia algun livro novo e interessante, e para terminar resolvi entrar na padaria e confeitaria para comprar algo gostoso, naquela hora já estava com fome.
Foi quando eu sai do meu estado de alienação quanto mundo exterior e resolvi prestar atenção no tempo. Começou a trovejar bastante, entrei na padaria e a chuva começou a cair furiosamente.
Pedi um pedaço de bolo, me sentei para comer. Foi quando ele entrou, provavelmente para se abrigar da chuva.
Quem era ele?
No momento eu ainda não sabia, mais nos próximos meses ele seria a pessoa que ocuparia o primeiro e último pensamento do meu dia. Seria ele que nos próximos meses estaria presente nos meus devaneios enquanto eu não assistia TV. Seria ele que me faria sentir mais feliz do que últimamente.
Mais naquela tarde nublada quando ele entrou naquele lugar, conseguiu desviar a minha atenção e me fazer concentrar nele. Ele era alto, tinha os cabelos castanho claro, olhos verdes e grandes. Ele por um momento olhou para mim. Eu desviei o olhar e voltei para o meu bolo. Duas semana depois ele me diria que me achou gulosa, aquele pedaço de bolo parescia muito grande para mim. Eu ri.



Republicação.
Publicado pela primeira vez em 05/11 por mim mesma no Blog Às vezes

segunda-feira, dezembro 7

Ela simplesmente se sentia despedaçada,

Como se cada milésimo do seu corpo estivesse sendo mastigado por um lobo feroz de dentes afiados.
A verdadeira dor não era física, era pior que isso, tão ruin quanto um veneno letal, veneno este produzido dentro de sua consciência, passado para o seu coração e que se espalhou vagarosamente por todo o corpo, queimava primeiro, depois mastigava tudo.
 Suas lágrimas se não fossem pretas devido à maquiagem dos olhos poderiam ser vemelhas como sangue, um sangue sujo de arrependimento, de angustia.
A pior sensação era sentir nojo de si mesma, vontade de vomitar-se a alma, o coração, arrancar toda aquela amargura corroziva.
Não podia mais suportar aquilo, seria capaz de fazer qualquer coisa para fazer parar se ao menos conseguisse se levantar do chão. Era triste de ver, uma mulher que sempre foi tão forte, tão segura ali, reduzida a trapos no pé da cama, chorando inconcientemente com os olhos fixos em algo que só ela via. O que ela via? Provavelmente todas as coisas que foi capaz de fazer, ou melhor, tudo o que foi capaz de perder.
Uma mulher que perdeu quem mais amava por não saber o valor que ela tinha.
As roupas dele ainda estavam lá, provavelmente ele não iria busca-las. E ela facilmente ficaria ali, esperando que ele voltasse. Ele não voltaria.

domingo, dezembro 6

Pedro

Pedro é infeliz.
É isso que ele diz quando você pergunta a ele como se sente. Ele diz que se sente infeliz.
Quando era criança, Pedro não gostava de brincar com os outros meninos de futebol, de lutinha, nem de qualquer outra coisa que os outros meninos gostassem.
Pedro quando criança não tinha amigas, perto de sua casa não morava nenhuma e na escola ele tinha vergonha de se aproximar delas. Pedro passava muito tempo sozinho. 
Mas quando criança gostava de desenhar. Ele desenhava pessoas e roupas. Era o que ele gostava de fazer. 
Aos 12 anos, os poucos meninos com quem tinha amizade, começaram a se interessar pelas meninas, a mecher com elas e dizer que elas tinham a bunda grande ou pequena, mas Pedro não reparava nisso, na verdade Pedro nem pensava nessas coisas, e de saco cheio começou a fazer amizade com as meninas.
Aos 14 anos, Pedro deu o seu primeiro beijo em uma menina da escola, mais ele achou nojento. Um tempo depois, começou a perceber que achava os meninos bonitos, e pensava bem escondido com ele mesmo que tinha vontade mesmo era de beijar um de seus ex-amigos. Os colegas de classe diziam que ele era um pouco "fruta". A avó disse para a mãe que achava aquele menino esquizito. 
Entre os 16 e 17 anos, Pedro entendia tudo o que as suas amigas (que eram muitas) diziam, dava conselhos a elas. Um dia quando estavam em uma boate, conheçeu Paulo. Paulo também gostava de meninos e gostou muito de Pedro. Foi a primeira vez que Pedro beijou um menino. Dai para frente, sempre se encontrava com Paulo, e se sentia muito feliz com isso. Queria contar para a mãe, mas tinha medo da reação dela, principalmente quando a ouvia insistir para que o menino arrumasse uma namorada. 
Pedro não contou para a mãe, não contou para o pai, nem para a avó, nem para as amigas. Ele nunca teve coragem, e sabia que nunca teria. Paulo e posteriormente eu eramos os únicos que sabiam.
A pressão dentro de sua casa aumentou, sua mãe praticamente o rastreava, ligava a todo momento, e quando suas amigas iam na casa dele, o pai logo perguntava se aquela era sua namorada. Pedro ria e dizia que não.
Um dia, quando não aguentava mais as cobranças da família, decidiu terminar o seu namoro com Paulo. Ele o amava muito, de verdade, mas não suportava mais aquela situação. Pedro chorou muito, Paulo também.
Pedro se separou da turma das meninas, começou a andar de novo com os meninos, e em um dia desses conheçeu Alice.
Alice era uma menina linda e sensível. Começaram a namorar, a família dele ficou feliz, Alice o amava mais do que tudo em sua vida, porque ele sempre a entendia, era gentil e tinha uma pureza incrível nos olhos.
Os anos se apassaram e Pedro se casou com Alice.
É por isso que quando eu pergunto ao meu melhor amigo, Pedro como ele se sente, ele me diz que se sente infeliz, e que por todos os dias de sua vida vai ter um nó em sua garganta e um amor secreto por um homem chamado Paulo, com quem mantém contato até hoje, nas noites em que sua mulher não estava por perto, era para Paulo que ele ligava, mais nunca mais se viram novamente.

quinta-feira, dezembro 3

Coisas que só acontecem com Pã [1]



Oi,
Meu nome é Pã e neste caderno que a partir de hoje chamarei de "Caderno de Histórias" eu vou relatar as minhas desventuras ou aventuras que definitivamente só podem acontecer com uma pessoa no mundo. Eu é claro.
Tudo começou no meu nascimento. Meu pai e minha mãe são astrônomos, se conheceram na faculdade e depois de um longo romance de casaram, e eu sou fruto da união desses dois Hippies malucos.
Eles ficaram muito felizes com o meu nascimento, eu tenho certeza, então resolveram colocar o meu nome igual ao de um dos satélites naturais (ou luas) de Saturno, Pã.
Ai você me diz: Poxa, Pã é um nome lindo!
Se você disser isso certamente é porque não sabe da verdade não é?
Com certeza não.
Eu vou esclarecer, antes de Pã ser o nome da lua de Saturno que orbita o interior do anel A, Pã ja era o nome de um deus da mitologia Grega, era o deus dos bosques, dos campos, dos rebanhos e dos pastores e morava em grutas e vagava pelos vales e pelas montanhas, caçando ou dançando com as ninfas e o pior, ele era meio homem meio bode.
Você entendeu a minha revolta? Eu tenho o nome de um deus (deus no masculino) que saia por ai caçando as ninfetas com uma cabeça de gente e pernas de bode!
Me lembro até hoje da quinta série, quando fomos estudar a mitologia e a turma toda começou a me chamar de "bodona". Demorou muito para esquecerem desse apelido.
Será que os meus pais não pensaram nisso? 
Depois que eu digo que os meus pais são dois hippies malucos, você diz que é ingratidão, mas essa foi só a primeira que eles aprontaram comigo, tem mais, muito mais.

Álbum de Pã

Esse ai que é o verdadeiro bodão, o deus Pã.

E esses ai são os dois malucos responsáveis pelo o meu nome masculino, essa foi a época em que se conheceram na faculdade.